João 1.43-51
Alusivo à Epifania de Nosso Senhor - Ciclo do Tempo Comum - Ano C
P. William Felipe Zacarias
Amados irmãos, amadas irmãs,
da insignificante vila de Nazaré, na Galileia, veio a revelação do nosso Salvador. Um sinal silencioso, nada retumbante; um sinal pequeno, sem prepotência; um sinal humilde, sem orgulho e egoísmo. Assim como no início dos tempos Deus fez tudo surgir do nada, novamente do nada surgiu tudo: da pequena e esquecida vila de Nazaré veio aquele que é o Salvador do mundo. Isso é tão chocante que Natanael teve dificuldades para crer; possivelmente, suas expectativas eram outras: um Rei glorioso, poderoso, vitorioso... Qualidades pertencentes a Jesus; contudo, envolvidas pelo manto da humildade, da fragilidade e da cruz.
É aqui, da pequena e insignificante vila de Nazaré que Deus começa sua nova jornada com a humanidade. Essa jornada é diferente da anterior, porque agora o Emanuel está presente[1]. Deus decidiu se revelar ao mundo não em cidades maravilhosas, poderosas e gloriosas; não veio naquelas conhecidas por conterem as maravilhas do mundo da época; Deus decidiu se revelar na pequena vila de Nazaré. É ali que aconteceu a epifania – a revelação – do Filho de Deus.
No Calendário Litúrgico, amanhã nós iniciamos a jornada do tempo da Epifania de nosso Senhor. A palavra epifania significa revelação. Nos próximos oito domingos, a Igreja Cristã irá meditar sobre a revelação de Deus em Jesus. Os domingos da Epifania são um convite para conhecermos melhor a identidade de Jesus. Através dos domingos após a Epifania, Deus nos faz conhecer melhor quem é o seu Filho Unigênito a partir dos relatos das Escrituras. Não há tempo melhor para conhecer com profundidade sobre quem é o Senhor Jesus e para entender, a partir da sua revelação, como a História da Salvação de Deus com a humanidade culminou na cruz e na ressurreição.
No tempo da Epifania, vamos conhecendo aos poucos os sinais que Deus revelou ao seu povo. O evangelista João escolheu escrever o seu evangelho demonstrando os sinais que eram feitos pelo Senhor Jesus. Através dos sinais, João vai aos poucos nos revelando a glória de Jesus. Através dos sinais (milagres, por exemplo), Jesus vai revelando que é o Filho de Deus. Por exemplo: Em João 2, Jesus transforma água em vinho; em João 5, Jesus realiza a cura de um paralítico; João 6, a multiplicação de pães e peixes; João 9, a cura de um cego de nascença, assim por diante. Diferente dos outros evangelistas, para João o mais importante não é contar a história de Jesus na ordem em que os fatos aconteceram, mas revelar aos poucos quem é esse que nasceu em Belém, foi criado em Nazaré, morreu na cruz e ressuscitou. E João vai nos revelando a identidade de Jesus contando os sinais que Jesus fez no meio do seu povo.
Estes sinais, porém, não são percebidos principalmente com os olhos da cabeça, mas do coração. Somente através da fé é que podemos crer nos sinais que Deus revela a nós seres humanos. E a fé é um presente que Deus concede através do agir do Espírito Santo. No tempo da Epifania, somos convidados a caminhar com Jesus e a crermos em sua pessoa como verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem; em tudo igual a nós, exceto no pecado.
Amados irmãos, amadas irmãs,
também nós somos convidados a manifestar os sinais do Reino de Deus no mundo. Nossos antepassados se preocuparam com isso. Desde 1832, gerações tem se preocupado em tornar esse espaço um lugar de comunhão, pregação da Palavra de Deus, adoração e serviço. E é com alegria que podemos celebrar o aniversário da Comunidade. A Comunidade Evangélica foi criada em 06 de Janeiro de 1832; no ano seguinte aconteceu a inauguração do primeiro templo, em estilo enxaimel – templo que também servia como escola.
Amanhã, completam-se 193 anos dessa história. Também aqui, através da pregação da Palavra e da correta administração dos Sacramentos (Batismo e Santa Ceia) Deus tem manifestado os sinais do seu Reino. E hoje, precisamos continuar proclamando a Palavra de Deus para que a Comunidade siga sua jornada sinalizando o Reino de Deus onde está inserida. É nossa missão ser uma comunidade missional que não apenas faz missão, mas é missão, ou seja, tem a missão no seu DNA.
Amados irmãos, amadas irmãs,
“há sinais de paz e de graça neste mundo que ainda é de Deus. Em meio aos poderes das trevas, manifestam-se as forças dos céus” (LCI nº 582). Em meio ao mundo perdido, sinalizemos que Jesus é o Salvador; em meio ao mundo marcado pela guerra, sinalizemos que Jesus é o Príncipe da Paz; em meio aos nossos pecados, sinalizemos ao nosso coração que Jesus morreu por nós; em meio a tantas ideias e ideologias, sinalizemos que Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Em meio a tanto ódio, sinalizemos que Jesus Cristo nos revelou o amor incondicional de Deus.
É o tempo da epifania. Natanael desconfiou, mas pouco tempo depois pôde crer! A nós, fica o convite feito por Filipe: “Vem e vê” (João 1.46). Através dos próximos oito Domingos, aceitemos esse convite a virmos aqui e a vermos com o coração quem, de fato, é Jesus e como Deus o revelou a nós. Jesus chamou os primeiros discípulos. E também nós somos chamados ao discipulado – caminhar com Jesus no dia a dia, sinalizando o Reino de Deus.
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os nossos corações e as nossas mentes, em Cristo Jesus, amém.
[1] Anotações das aulas de Exegese do Novo Testamento sobre o Evangelho de João com o Prof. Dr. Werner Wiese na Faculdade Luterana de Teologia de São Bento do Sul/SC.