Lucas 21.25-36
I Domingo de Advento - Ciclo do Natal - Ano C
P. William Felipe Zacarias
Amados irmãos, amadas irmãs,
para muitos as notícias sobre o fim do mundo causam medo, pavor, ansiedade e desespero, mas não deve ser assim para as pessoas que creem em Jesus: para elas, esse dia será um dia de redenção, salvação e, portanto, de consolo.
Ao entrarem na Igreja Três Reis Magos, vocês viram placas de trânsito no corredor. As placas são sinais que trazem alertas sobre o caminho que estamos seguindo. Contudo, as placas não são o próprio caminho. Devemos estar vigilantes às placas para seguirmos o nosso caminho com maior segurança; contudo, as placas em si não são o caminho, mas estão postas no caminho para nos alertar daquilo que está à frente. Alguém que conhece o caminho pôs as placas para que os viajantes futuros possam ser prevenidos, cuidadosos e alertas às curvas, lombadas, aclives, declives e outros fatores. O motorista prudente olhará atentamente às placas – aos sinais – para seguir a sua viagem.
Da mesma forma é a vida do cristão: nós seguimos pelo caminho de Jesus rumo à salvação eterna. O texto do Evangelho que ouvimos afirma que há sinais – placas – neste caminho. Muitas coisas poderão acontecer durante a peregrinação. Esses sinais são os alertas para o qual devemos estar vigilantes, mas em si eles ainda não são o nosso destino e o nosso fim. Quando olhamos apenas para as placas que anunciam o perigo que pode estar à frente, ficamos desesperados, assustados e temerosos; quando, porém, olhamos para Jesus e temos nele a segurança da nossa salvação, sabemos que os sinais são apenas placas que apontam para o Dia da Salvação. Devemos estar sóbrios e vigilantes diante dos sinais, mas não desesperados, pois a nossa esperança está em Jesus que, no passado, já conquistou a nossa Salvação.
Nós estamos caminhando; os cristãos são o povo que caminha (cf. Atos 9.2). Nós conhecemos apenas o momento em que caminhamos e tudo o que ficou para trás; Deus, porém, conhece todo o caminho. E pôs sinais para ajudar em nossa peregrinação – e não para nos amedrontar, atemorizar ou assustar. As placas – os sinais – do caminho apontam para o dia em que os males desse mundo já não irão nos atemorizar.
Em 03 de Dezembro de 1522, o reformador alemão Martinho Lutero pregou o texto de Lucas 21.25-36 no Primeiro Domingo de Advento da Igreja de Santa Maria em Wittenberg. A interpretação de Lutero sobre esses sinais é muito interessante. Por isso, quero trazer apenas três pontos para a nossa reflexão.
1 CRISTO JÁ VEM A NÓS PELO EVANGELHO E UM DIA VIRÁ FISICAMENTE
Lutero diz:
Pois após o nascimento físico, ele veio, mas não foi visto por ninguém. Ele também vem diariamente, espiritualmente, pelo Evangelho, nos corações dos crentes, mas isso também ninguém vê. No entanto, esta vinda será pública, e todos terão de vê-lo, como Apocalipse 1.7 diz: “E todos os olhos o verão”.[1]
No ouvir diário do Evangelho acontece a volta espiritual de Cristo para que sejamos consolados e fortalecidos enquanto peregrinamos vendo os sinais da sua volta física e definitiva. Enquanto peregrinamos, devemos dar atenção ao Evangelho – que é o centro da Igreja – para que sigamos nossa jornada com fé e consolados pelo amor de Deus.
2 OS VERDADEIROS CRISTÃOS ESPERAM PELA VOLTA DE JESUS
Lutero diz:
Os verdadeiros cristãos vivem em grandes tribulações e perseguições, cercados por pecados e todo tipo de mal, de modo que esta vida lhes parece amarga e insuportável. Por isso, eles aguardam com expectativa e oram por libertação dos seus pecados e de todo mal, como o Pai-nosso também ensina: “Venha o teu reino” e “livra-nos do mal”.[2]
Neste mundo, vivemos em constantes perigos, ameaças, perseguições e problemas. Além disso, lutamos contra os nossos pecados que diariamente querem nos separar de Deus. Por isso, as verdadeiras pessoas cristãs não querem “atrasar” a volta de Jesus, mas a desejam como a libertação das amarras deste mundo. Mas, como então se preparar para esse dia? Lutero diz:
Não há ninguém mais preparado para o último dia do que aquele que deseja sinceramente estar sem pecado. Se você tem esse desejo, por que temer? Você está, por meio desse desejo, em harmonia com este dia. Ele vem para libertar todos os que desejam ser livres do pecado, e você também deseja isso. Agradeça a Deus e permaneça firme nesse desejo.[3]
Ele diz também que esse será um dia de redenção. Por isso, devemos nos alegrar nessa esperança da volta de Jesus.
3 A FIGUEIRA REPRESENTA CONSOLO E ESPERANÇA
Essa é talvez a parte mais bela do sermão de Lutero. Ele diz sobre a parábola da figueira:
Essas são palavras de puro consolo. Jesus não disse uma parábola sobre o outono ou o inverno, quando todas as árvores estão nuas e o tempo sombrio se aproxima, mas sim sobre a primavera e o verão – épocas alegres e vibrantes, em que toda a Criação se renova e se alegra. Com isso, Jesus nos ensina claramente que devemos esperar e nos consolar com o último dia com o mesmo entusiasmo e desejo com que todas as criaturas aguardam a primavera ou o verão.[4]
Com a parábola da figueira, Jesus não quer nos encher de medo, mas de esperança e de paz. O florescimento significa que o tempo da renovação se aproxima. Da mesma forma são os sinais sobre a vinda de Jesus: não devem ser vistos como anúncio de medo, terror e desespero, mas de consolo, ajuda e redenção. Esses sinais dizem que algo novo está vindo. Eles testemunham que o Reino de Deus está próximo. Em meio ao inverno, virá a primavera. E como diz Eusébio:
rebrilhará o próprio Cristo como luzeiro e rei, será tamanho o esplendor do seu poder e de sua glória, que o sol que ora brilha, a lua e as demais estrelas eclipsar-se-ão ante a força de sua luz incomparável.[5]
Amados irmãos, amadas irmãs,
estamos no tempo do Advento que é o tempo de preparação para o natal e para a volta de Jesus. Diante do passado do nascimento de Jesus, nos alegremos sempre de novo com a notícia dos anjos que anunciaram mais de uma vez as palavras “não tenha medo” (Lucas 1.30; 2.10; Mateus 1.20). Diante do futuro tão cheio de mistérios, nos apeguemos ao caminho da Salvação – que é o próprio Senhor Jesus (cf. João 14.6). Os sinais são alertas que nos fazem ficarmos sóbrios e vigilantes. Contudo, os sinais não devem nos paralisar e muito menos diminuir a nossa esperança pela vinda do Reino de Deus.
Aproveitemos o tempo do Advento para refletir sobre todas estas coisas. As velas simbolizam que o tempo está passando. Em breve, o natal estará aí; em breve, Jesus voltará. Agora é o tempo de arrependimento e mudança de vida. Que Deus abençoe essa época tão especial do calendário litúrgico em nossas vidas.
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os nossos corações e as nossas mentes, em Cristo Jesus, amém.
[1] LUTHER, Martin. Adventpostille 1522. Disponível em: < http://www.lutherdansk.dk/ WA%2010%20I%202%20-%20011106/index.htm >. Acesso em: 30. nov. 2024.
[2] Ibid.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] EUSÉBIO. in: AQUINO, Tomás de. Catena Aurea: exposição contínua sobre os Evangelhos. v. 3: Evangelho de São Lucas. Campinas: Ecclesiae, 2020. p. 599.