Lucas 12.13-21
Ciclo do Tempo Comum
P. William Felipe Zacarias
Amados irmãos, amadas irmãs,
ele trabalhou muito. Ele plantou muito: empresas, negócios, investimentos. Plantou fama, influência, admiração. Mantinha os olhos abertos para novas oportunidades do mercado. Ficava de olho na taxa Selic para movimentar a sua carteira. Ele plantou tudo isso. E colheu tudo o que havia sonhado: foi homenageado, seguido, respeitado. Na sua cidade, todos conheciam o seu nome.
E foi então que, de forma inesperada, durante a noite, seu coração apertou. Era uma dor aguda – o coração estava falhando, algo natural após anos de estresse contínuo. Então ele descobriu uma dor na alma – até então anestesiada pelo sucesso: na terra da sua alma, não havia nada plantado! Estava longe do tesouro eterno. Sempre esteve afastado da família. Não tinha tempo para os filhos. Não tinha paciência para ouvir a sua esposa.
Ele sentia que aquela noite poderia ser o seu fim – e que não havia dado valor ao que realmente tem valor na vida: fé, Igreja, família, amigos. Investindo a vida no sucesso, agora pensava como havia perdido o maior tesouro de todos. Não, ele não era uma pessoa má. Até dizia crer em Deus – claro! “Cristão desde criança”, como seus pais. Sempre foi membro da Igreja. Sempre estava com a contribuição em dia. Contudo, nunca carregou a cruz; nunca negou a si mesmo; nunca seguiu a Jesus de verdade; nunca viveu o seu batismo. Embora fosse um cristão de Domingo, não era um discípulo de Jesus de Segunda a Sábado. Plantou para si, mas não frutificou para o Reino dos Céus. Plantou para o mundo, mas não semeou no Reino de Deus. Fez muito na sua vida, mas na seara do Senhor não havia nada a colher. E quando o fim chegou – de forma súbita como a noite apaga o dia – não havia o que colher diante de Deus; só o vazio.
Irmãos e irmãs em Cristo,
essa seria a atualização da Parábola contada por Jesus. Embora eu tenha usado o exemplo masculino, ela vale para todas as pessoas aqui presentes – inclusive a mim, que também sou pecador.
Muitas pessoas são bem-vistas aos olhos do mundo. Conquistam muitas coisas. O mundo chamaria isso de sabedoria, mas Jesus chamou isso de loucura – não por causa da boa administração dos bens, mas por ignorar o tesouro da cruz. E, ao chegar o momento final, não havia onde se segurar... Não havia ao que se agarrar... Não havia cruz para haver esperança de ressurreição e vida eterna.
Muitas pessoas depositam toda a sua vida no dinheiro – e o problema nesta frase não é a palavra dinheiro, mas a palavra toda. Quando o dinheiro se torna tudo na vida, a vida “topa tudo por dinheiro”. Dinheiro é importante. Não fazemos nada sem dinheiro. Mas o dinheiro não pode se tornar o senhor das nossas vidas. Você pode dominar o seu dinheiro ou ser dominado pelo seu dinheiro – seja ele muito ou pouco, pois não são apenas os muitos ricos que podem se tornar escravos de dinheiro.
Deus nos chama hoje a administrarmos o nosso dinheiro com sabedoria. E sabedoria é saber que também o dinheiro tem seus limites:
· O dinheiro pode comprar uma casa, mas não compra um lar;
· O dinheiro pode comprar um relógio, mas não compra o tempo;
· O dinheiro pode comprar uma cama, mas não compra a paz de um sono tranquilo;
· O dinheiro pode conseguir aplausos, mas não compra o caráter;
· O dinheiro pode comprar alimento, mas não compra a comunhão de mesa;
· O dinheiro pode comprar o sexo, mas não pode comprar o amor verdadeiro;
A loucura da vida – apontada por Jesus – é justamente a inversão desses valores. Quando isso acontece, o final da vida se torna vazio. É preciso administrar bem os tesouros que não podem ser comprados pelo dinheiro, mas que são administrados com fé, tempo, atenção, paciência, companheirismo, amizade e sabedoria.
Amados irmãos, amadas irmãs,
Não seja escravo do seu dinheiro. Não seja propriedade das suas propriedades. Jamais esqueça o grande tesouro: o Evangelho de Jesus Cristo que dá a salvação eterna.
A sabedoria desta parábola se aplica também à vida comunitária na Igreja. Jesus não quer consumidores da fé, mas discípulos que aprendem diariamente com ele e treinam a sua vida de fé. Muitos cristãos fizeram do seu batismo um ingresso para o céu que é guardado no bolso e com um dizer “vejo vocês do outro lado”. Essa é a loucura! A Igreja de Jesus não precisa de clientes, mas membros fiéis até à morte. A Igreja de Jesus não tem assinantes que podem ativar ou desativar a assinatura conforme o uso (assim como nos streamings), por exemplo: quando eu preciso, eu ativo; quando eu não preciso, eu desativo. Que fé é essa? Que compromisso com Deus é esse? Mas hoje, muitos estão nessa “loucura” – e poucos podem ser curados.
Para muitas pessoas não é caro pagar 500 reais em um tênis novo; agora, se for dar os 500 reais para a Campanha Vai e Vem, nossa, é demais! Muitas pessoas não acham caro pagar 100, 200 ou 300 reais em uma bolsa, ou em uma calça, camiseta, calçado; mas se for colocar esse valor para abençoar a missão da Igreja, aí é demais!
Como Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, não pregamos Teologia da Prosperidade. Nós pregamos que as ofertas são uma forma de gratidão por tudo o que já recebemos de Deus. Mas muita gente tem dado ao Reino de Deus apenas as sobras, embora recebam diariamente muitas bênçãos de Deus.
Irmãos e irmãs, celeiro cheio não sustenta alma vazia. Administre os seus bens com sabedoria – sejam quantos forem, pois quem não for fiel no pouco, não conseguirá ser fiel no muito. Contudo, não caia na loucura do homem da parábola de Jesus: a loucura de achar que a vida é só dinheiro. Hoje Deus te concede a oportunidade de descobrir isso já – e não apenas no final. Jesus não contou o desfecho do homem. Não sabemos o que aquele homem fez ao ouvir a voz de Deus. Da mesma forma, a resposta também é sua: se hoje a sua alma for pedida por Deus, o que tens preparado e pra quem será? “Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus”. Tome hoje a decisão de ser rico espiritualmente para com Deus, caminhando com Jesus. Amém.