P. William Felipe Zacarias
A imagem de Cristo na cruz do altar da Igreja Evangélica Três Reis Magos tem chamado à atenção – especialmente após a Páscoa - que nos leva a confessar a Ressurreição de Jesus. Membros da Comunidade tem perguntado se a imagem não deveria ter sido retirada no Domingo da Páscoa ou se será retirada no dia da Ascensão do Senhor.
O motivo da volta da imagem de Cristo na cruz em nossa linda igreja pode ser explicado a partir de três argumentos principais:
1) O Argumento Bíblico
Conforme Lucas 24.36-40 e João 20.19-29, Jesus ressuscitou com as marcas da cruz, também chamadas de chagas. Através desse sinal, Jesus demonstrou aos discípulos que o evento da Ressurreição não deve ocultar ou fazer esquecer a cruz: ao ressuscitar com as chagas, Jesus sinaliza que devemos sempre lembrar dele como aquele que foi crucificado e que ressuscitou.
Da mesma forma, testemunha o apóstolo Paulo: “Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, ela é poder de Deus” (1 Coríntios 1.18). A cruz é a essência da pregação cristã: “nós pregamos o Cristo crucificado” (1 Coríntios 1.23). O apóstolo de Cristo confessava que o tema central da pregação deveria ser o Cristo crucificado, pois não haveria a glória da ressurreição sem os sofrimentos do Deus que morreu na cruz.
Portanto, é bíblico que a crucificação de Jesus é o tema central da fé cristã – embora hoje a Sexta-feira da Paixão geralmente é o dia em que as igrejas estão mais vazias.
2) O Argumento Confessional
O reformador alemão Martinho Lutero (1483-1546) escreveu: “Não basta nem adianta a ninguém conhecer a Deus em glória e majestade se não o conhecer também na humildade e no desprezo da cruz” (OSel 1, p. 50). E arremata, dizendo: “No Cristo crucificado é que estão a verdadeira teologia e o verdadeiro conhecimento de Deus” (OSel 1, p. 50). Com isso, o reformador está dizendo que não há como conhecer a Deus sem passar pelo rosto do Cristo crucificado.
O P. Prof. Dr. Martin Norberto Dreher destaca que “não temos outra maneira de saber e de reconhecer quem e como Deus é, senão através de Jesus Cristo: Deus tem o rosto do crucificado, pois até mesmo o Ressurreto tem as marcas, as chagas, do Crucificado” (Caderno de Estudos da IECLB 2023-204, p. 33-34). Assim, no rosto do Jesus crucificado contemplamos o rosto amoroso e misericordioso de Deus que nos acolhe, perdoa e abraça.
Durante o movimento reformatório, alguns reformadores radicais sugeriram retirar as imagens das igrejas protestantes. Esse movimento ficou conhecido como a “iconoclastia”. Lutero, porém, não concordava com esse movimento, pois embora não dirijamos nossas orações à imagens, elas nos ensinam sobre a misericórdia de Deus – especialmente a imagem do Cristo Crucificado.
Se observarmos as pinturas da Reforma Luterana feitas por Lucas Cranach, o Velho, e seu filho Lucas Cranach, o Jovem, veremos que há grande ênfase em retratar o Cristo crucificado como fonte de consolo, salvação e justificação do ser humano pecador. Boa parte do mundo evangélico rejeita a imagem de Cristo na cruz; essa não é, todavia, a ênfase dos luteranos.
3) O Argumento Lógico
Pense comigo: Jesus foi descido vivo ou morto da cruz? Como sabemos pelo testemunho bíblico, Jesus foi descido da cruz morto. Logo, a cruz vazia não pode simbolizar a Ressurreição, pois não havia vida em Jesus quando foi esvaziada. Se quiséssemos simbolizar a Ressurreição de Jesus, precisaríamos substituir a cruz do altar por um túmulo vazio.
Conclusão:
Já sabemos pelos argumentos bíblico, confessional e lógico que a Ressurreição não deve jamais apagar a memória da Crucificação.
Por isso, a cruz com o Cristo crucificado atrás da Bíblia no altar é um testemunho visível de que “a Palavra se fez carne e habitou entre nós, cheia de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (João 1.14). Diante do altar, nos aproximamos do “trono da graça” (cf. Hebreus 4.16) e isso é motivo de louvor: “Digno é o Cordeiro que foi morto, de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor” (Apocalipse 5.12).
Esse é o significado bíblico, confessional e lógico da imagem do Cristo crucificado. Ele é o fundamento da nossa fé. Tê-lo no altar é um constante lembrete do amor de Deus que entregou tudo o que tinha para a nossa salvação: o seu próprio Filho Unigênito.
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