Lucas 3.7-18
III Domingo de Advento - Ciclo do Natal - Ano C
P. William Felipe Zacarias
Amados irmãos, amadas irmãs,
estamos em uma época de mensagens muito bonitas, adornadas em belíssimas propagandas. Claro, todos querem nos vender algo. Precisam nos convencer que precisamos do produto que está sendo oferecido; já o Evangelho não pode ser vendido! Por isso, o Evangelho pode ser completamente sincero – e até desagradar as nossas expectativas.
Este é o caso do texto para a pregação de hoje. A pregação de João Batista é sincera, dura e desafiadora. Uma pregação que requer coragem para ser anunciada e humildade para ser ouvida. Sem coragem, um pregador não diz estas palavras; sem humildade, o coração não pode recebê-las. Porém, quando recebidas, causam transformação.
No que o consumismo transformou o tempo do Natal? Na ilusão que é um tempo apenas de coisas bonitas, mensagens bonitas, vitrines bonitas... E João Batista, o precursor de Jesus, dá uma boa sacudida em nossos corações: por fora as coisas podem parecer boas, mas como estão as coisas por dentro? Como está a vida do lado de dentro? Como está o nosso interior enquanto se aproxima o natal?
A pregação de João Batista é uma mensagem forte, poderosa e direcionada para o arrependimento, conversão e preparação. Mas os corações orgulhosos fecharão os ouvidos a essa mensagem, pois acreditam que estão certos e que não precisam mudar nada em suas vidas. Inclusive, me parece até que o mundo tenta cada vez mais mudar Deus: Deus precisa corresponder aos meus sonhos, expectativas e ideias; Deus precisa se adequar às coisas que eu quero; Deus precisa justificar não a nossa vida dos nossos pecados, mas precisa justificar o que eu quero: Deus se torna uma forma de justificarmos espiritualmente nossos desejos de consumo. E o verdadeiro natal fica onde? Esquecido, deixado de lado, abandonado. O tempo do Advento não é importante; o culto de Natal não é importante; enfim, a primeira data solene da fé cristã é ignorada e deixada de lado porque “mudamos Deus” à imagem e semelhança dos nossos desejos.
O que o texto bíblico diz a nós sobre isso? Palavras duras ditas com coragem e que precisam ser recebidas com humildade: “E também o machado já está posto à raiz das árvores. Portanto, toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.” (Lucas 3.9). Ele diz também: “Quem deu a entender que vocês podem fugir da ira vindoura? Produzam frutos dignos de arrependimento!” (Lucas 3.7b-8a).
Advento é o tempo do arrependimento, da conversão e da preparação. Por isso, usamos os paramentos na cor violeta neste período. Durante a sua paixão, Jesus foi vestido com um mando de púrpura pelos soldados romanos e coroado com uma coroa de espinhos: diante da Majestade de Deus na cruz, somos levados ao arrependimento. É por isso que no Advento não cantamos “Aleluia”, pois não é um tempo de louvor, mas de humildade, arrependimento e conversão. E, como já nos dois primeiros cultos de Advento, esse é o significado das quatro velas: o tempo está passando. Agora é o tempo de preparação, arrependimento e conversão.
E então, talvez, com toda a humildade, façamos a mesma pergunta que a multidão fez a João Batista: “ – O que é que devemos fazer?” (Lucas 3.10). A resposta de João Batista é cheia de atividades práticas que todos nós podemos começar a fazer: “ – Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem, e quem tiver comida faça o mesmo” (Lucas 3.11); aos publicanos, João Batista disse: “ – Não cobrem mais do que o estipulado” (Lucas 3.13); aos soldados, ele disse: “ – Não sejam prepotentes, não façam denúncias falsas e contentem-se com o salário que vocês recebem” (Lucas 3.14). Ou seja: arrependimento não é uma simples emoção ou um momento, mas uma prática em nosso dia a dia. Muitas mesas estarão cheias de comida na ceia de Natal; muitas famílias nem sequer tem mesa; o verdadeiro arrependimento anunciado por João Batista não diz respeito apenas à vida interna, mas à prática externa, onde abraçamos todas as pessoas com compaixão. Além disso, é a busca da justiça: não cobrar mais que o estipulado e não agir com prepotência. Essa é a ética da vida cristã.
A partir da pregação de João Batista, muitos começaram a achar que ele era o Cristo. Então, o servo de Deus reconheceu com toda a humildade que é apenas o precursor e que não é digno nem sequer de desamarras as correias das sandálias dos seus pés. João Batista testemunha que ele batiza com água, mas que Jesus Cristo faz o batismo no Espírito Santo. O que isso significa? O poder da graça de Deus que vem em Jesus para perdoar o ser humano pecador.
Amados irmãos, amadas irmãs,
as palavras de João Batista são duras; mas, ao mesmo tempo, são um grande convite à solidariedade no natal. Como podemos estar em paz em nossa ceia de natal enquanto tantos outros não tem o que comer? As “lindas mensagens” das propagandas de natal dizem: “vamos, compre, consuma, você precisa disso. De preferência, antes dos outros”; já a verdadeira mensagem do advento nos diz: “vamos continuar ajudando as pessoas que precisam de ajuda. Tantos sofreram esse ano com as enchentes; muitos continuam em sofrimento e carências. Que tal colaborar com um pouco do que você tem?”
Esse é o significado prático da tarefa da igreja não apenas de fazer missão, mas ser uma Igreja Missionária porque crê em um Deus missionário. No 34º Concílio da IECLB, foram aprovadas duas metas missionárias, que são: Meta 1: Fortalecer a vitalidade comunitária e o crescimento integral da Igreja; Meta 2: Fortalecer a incidência do testemunho público da Igreja. E isso faz jus ao Tema do Ano da IECLB para este novo ano eclesiástico: Compartilhar a generosidade de Deus com esse belíssimo cartaz.
O chamado à missão é um chamado a todos nós. Todos somos chamados a compartilhar a generosidade de Deus porque já recebemos essa generosidade em Jesus. O Deus que nós cremos é um Deus diácono e missionário: ele serve e concede o Evangelho. No caderno de estudos da IECLB, o P. Dr. Paulo Butzke diz: “O Pai doa tudo ao Filho, que em obediência, doa tudo ao Pai”[1]. Diz também que
a generosidade mútua entre Pai e Filho não permanece entre eles. Através do Espírito Santo, ela é partilhada. O amor intratrinnitário transborda através do envio do Espírito Santo. Ele procede do Pai e do Filho para comunicar, revelar e tornar concreta a obra da Trindade na história da Salvação[2].
A Igreja é comunhão em missão. O convite que Deus nos faz hoje é que nos deixemos fascinar pelo Deus missionário, sua generosidade e sua autodoação amorosa. O convite hoje é que deixemos a missão de Deus se tornar a nossa paixão.
João Batista pregou um chamado a produzirmos frutos de arrependimento. Esse é um convite a compartilharmos a generosidade de Deus. Contudo, ficar apenas na palavra anunciada e ouvida é muito fácil. Por isso, lanço hoje um desafio: hoje à noite na Cantata de Natal ou no próximo culto domingo que vêm, traga 1 Kg de alimento não perecível para doarmos à AEVAS – que continua precisando. Se cada pessoa que está aqui trouxer 1 Kg de alimento, quantos quilos teremos? E assim, tenha certeza de que como comunidade abençoaremos o natal de muita gente. Isso é fazer missão. Isso é compartilhar a generosidade de Deus. Isso é diaconia.
É disso que João Batista está falando. É assim que nos preparamos para o natal: com prática, ação, solidariedade, compaixão. Esse é o verdadeiro arrependimento. Quem foi salvo pela fé precisa produzir obras em gratidão pela salvação recebida. Vamos fazer a diferença e, em nossa prática, testemunhar Deus através das nossas ações. O desafio está lançado. Deus nos conceda humildade para aceitar o desafio e colaborar com quem precisa. Venha ao culto e traga algo para partilhar com outras pessoas. E que Deus abençoe as dádivas e também aos doadores.
Cair na conversa das lindas mensagens de natal significa o consumismo, o desejo e o egoísmo; compartilhar a generosidade de Deus significa ouvir o Evangelho e colocá-lo em prática através da missão. Os desejos e o consumismo fazem o natal ser um fim em nós mesmos; compartilhar a generosidade de Deus significa transbordar de amor para os outros.
O Senhor seja conosco e nos mantenha fiéis ao seu Evangelho e ao verdadeiro natal. Agora é o tempo do arrependimento, da conversão e da preparação. Façamos isso na prática e tenhamos um feliz natal dando felicidade para mais pessoas. Amém.
[1] BUTZKE, Paulo. A missão do Triúno Deus e a missão da IECLB. in: BUTZKE, Paulo (Coord.). Compartilhar a generosidade de Deus: Caderno de estudos tema do ano 2025. Porto Alegre: Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, 2024. p. 28.
[2] BUTZKE, 2024. p. 28.