João 17.1a, 20-26
7º Domingo da Páscoa - Ciclo da Páscoa - Ano C
P. William Felipe Zacarias
Amados irmãos, amadas irmãs,
Jesus não orou por você; Jesus orou por nós! E essa palavra “nós” faz toda a diferença, enquanto a palavra “eu” faz toda a indiferença. Em seus últimos momentos com os discípulos, Jesus orou por si e por eles; contudo, Jesus não orou apenas por aqueles que estavam assentados à mesa com ele: ele também orou por nós, dizendo: “a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17.21).
Na oração de Jesus, não há a exaltação do eu sobre os outros, mas do nós que significa estar com os outros. Na vida da Igreja, não é o eu que prevalece; ao contrário, o que importa é a comunhão que transforma o eu e tu em nós. Vemos a valorização da comunhão cristã na conhecida oração que Jesus ensinou aos discípulos, onde ele disse “Pai nosso”, “pão nosso”, “nossas dívidas”, “nossos devedores”, “não nos deixe cair em tentação”, “livra-nos do mal”. Sim, somos pessoas diferentes; crer em Cristo não apaga as diferenças; contudo, crer em Cristo torna as diferenças em algo secundário para que tenhamos unidade naquilo que é central: Jesus Cristo, o centro da Igreja.
Como Igreja, somos chamados a refletir Cristo no mundo! (pegar e mostrar o espelho). Assim como o espelho reflete a imagem com perfeição, da mesma forma os cristãos em comunhão são chamados a refletir a glória de Cristo manifestada na cruz e ressurreição. A Igreja que reflete o amor de Deus em Cristo Jesus testemunha ao mundo a verdade do Evangelho ao ponto de que “o mundo creia que Jesus foi enviado pelo Pai” (João 17.21b). Através do testemunho fiel da Igreja é que o mundo poderá reconhecer e crer em Jesus Cristo como Filho de Deus, Senhor e Salvador. E Jesus orou para que esse testemunho seja coletivo, em comunhão: ele orou para que as pessoas de fora da Igreja vejam na Igreja o amor de Deus revelado em Cristo Jesus.
Mas então, algo pode acontecer (jogar o espelho com força dentro de uma caixa preparada para que ninguém se machuque): começam a acontecer distorções, divisões, mentiras dentro da Igreja. De repente, a parte se torna mais importante que o todo, o eu se torna mais importante que o nós, o individualismo se torna mais importante que a comunhão. Se antes o espelho refletia a imagem perfeitamente, agora cada pedaço reflete uma parte e acredita que só o seu pedaço contém toda a verdade.
É isso que o orgulho faz com a comunhão; é isso que a arrogância faz com a humildade; é assim que a vaidade, o egoísmo e as disputas acabam com a unidade da Igreja. É assim que o corpo de Cristo – a Igreja – é ferido, machucado e separado. O que antes era uma imagem única, agora é um espelho partido. A unidade é transformada em cacos de vidro espalhados e sem comunhão. E cacos de vidro ferem, cortam, machucam quando buscam se impor sobre os outros. Isso acontece sempre que o eu quer prevalecer sobre o nós, quando a minha vontade é maior que a nossa vontade, quando as coisas precisam ser do meu jeito e não do nosso jeito. Assim, a comunhão é ferida; a Comunidade sangra e corre o risco de morrer.
Amados irmãos, amadas irmãs,
contudo, há esperança. O espelho pode estar quebrado; podemos estar separados uns dos outros; podemos tentar reconstruir o espelho; contudo, é humanamente impossível deixá-lo com sua imagem original. Podemos tentar juntar os cacos e colá-los, mas as cicatrizes da ferida aberta ficarão visíveis. E então, vem a boa notícia: foi Jesus quem orou para que todos sejamos um. A obra de reconstrução é do próprio Cristo. Nós vemos a imagem partida e quebrada, Cristo, porém, já conhece a imagem perfeita e completa: “Porque agora vemos como num espelho, de forma obscura; depois veremos face a face. Agora meu conhecimento é incompleto; depois conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior deles é o amor” (1 Coríntios 13.12-13).
E quero continuar pensando no coletivo: quais são os cacos que precisam ser ajuntados na sua família? Quais são os cacos que precisam ser ajuntados na nossa Comunidade? Quais são os cacos que precisam ser ajuntados na nossa vida? Onde algo foi quebrado? Onde algo foi estilhaçado? Onde só restaram pedaços do que já foi um dia uma alegria pelo todo? Onde você percebe que tem refletido a imagem de Cristo apenas em parte, mas não no todo? Como Igreja, como podemos nos unir para testemunharmos de Cristo para que o mundo creia nele?
Famílias, tenham coragem; grupos de trabalho, tenham coragem; Comunidade, tenha coragem de buscar a Unidade – que não significa uniformidade: somos pessoas diferentes e é justamente isso que faz a diferença na comunhão onde uns podem apoiar outros a caminharem juntos como irmãos.
O próprio Senhor Jesus conquistou a Unidade pela qual orou. Ele orou por nós. Orou para que sejamos unidos. Orou para que o mundo conhecesse o seu amor através de nós. E tenha certeza: Quando amamos, refletimos a glória de Cristo; quando ouvimos alguém, refletimos a glória de Cristo; quando nos alegramos com os que se alegram, refletimos a glória de Cristo; quando choramos com os que choram, refletimos a glória de Cristo; quando proclamamos a mensagem da cruz e ressurreição, refletimos a glória de Cristo.
Que o Deus da paz continue nos unindo no amor fraternal para que em Unidade possamos ser ComUnidade que caminha de mãos dadas nunca permitindo que aquilo que é secundário assuma o lugar daquilo que é o principal: a centralidade de Cristo na vida da Igreja. Muitas coisas podem ser importantes em um nível pessoal; contudo, Cristo é importante em um nível comunitário: ele é o Senhor e o fundamento da Igreja – e nem as portas do inferno prevalecerão contra ela. Onde os cacos estão quebrados, Jesus enxerga a imagem completa.
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os nossos corações e as nossas mentes, em Cristo Jesus, amém.