1 Coríntios 12.12-31
3º Domingo após Epifania - Ciclo do Tempo Comum - Ano C
P. William Felipe Zacarias
Amados irmãos, amadas irmãs,
quem quer que a nossa igreja cresça? Quem quer que a nossa igreja cresça, por favor, levante a mão. Obrigado. Vocês não sabem, mas acabaram de assumir um compromisso. Mais tarde vou falar sobre ele.
Agora, quero falar de um livro que comecei a ler nessa semana. Ele se chama “A vida secreta das árvores” e foi escrito pelo engenheiro florestal alemão Peter Wohlleben. É um livro muito interessante. Recomendo a leitura. Já no primeiro capítulo o autor nos surpreende falando sobre a amizade entre as árvores. Ele conta que um dia encontrou algumas pedras na floresta cobertas de musgo. Ao verificar mais de perto, percebeu que não eram pedras, mas, na verdade, cascas de árvore. Madeira velha de alguma árvore que havia tombado há cerca de 400 ou 500 anos. O que mais lhe chamou a atenção é que esses pedaços de madeira não estavam mortos. E surgiu a pergunta: como aquelas sobras ficaram vivas tanto tempo? Foi então que Peter descobriu que as raízes estavam conectadas com outras árvores que partilhavam nutrientes com aquela madeira velha.[1]
Bem, não quero me aprofundar muito no livro, mas há algo interessante aqui: as árvores aprenderam a viver em comunidade. E aqui vale a pena abrir um espaço para deixar o autor falar. Ele escreveu:
Trabalhando juntas elas são mais fortes. Uma única árvore não forma uma floresta, não produz um microclima equilibrado; fica exposta, desprotegida contra o vento e intempéries. Por outro lado, muitas árvores juntas criam um ecossistema que atenua o excesso de calor e de frio, armazena um grande volume de água e aumenta a umidade atmosférica – ambiente na qual as árvores conseguem viver protegidas e durar bastante tempo. [2]
Assim, cada árvore é valiosa para a comunidade e deve ser mantida viva o máximo de tempo possível. Mesmo os espécimes doentes recebem ajuda e nutrientes até ficarem curados. E uma árvore que no passado auxiliou outra pode no futuro precisar de uma mãozinha.[3]
Por que estou falando sobre as árvores? Bem, se o próprio Senhor Jesus usou exemplos da natureza em muitas de suas parábolas[4], por que eu não poderia usar? Fato é que isso nos ajuda muito a entender a vida em comunidade. Então, o que pode impedir a igreja de crescer? O que pode causar enfermidades à igreja? O que pode fazer a igreja tombar como uma árvore seca? Vamos ver três pontos:
1 O ORGULHO
As árvores colaboram entre si. E geralmente buscam atingir todas a mesma altura para estarem protegidas dos ventos e outras intempéries. Por isso, se uma árvore quiser se sobressair às outras, ela até poderá conseguir mais luz do sol; contudo, estará mais vulnerável a ventos e tempestades. Além disso, a segurança da árvore depende das suas raízes (olhar para baixo) e não tanto da sua altura (olhar para cima).
Da mesma forma acontece na Igreja de Jesus Cristo. O orgulho facilmente adoece a comunidade. O orgulho aqui significa – como na árvore – olhar apenas para cima e esquecer as próprias raízes. A igreja que esquece suas próprias raízes certamente tombará mais cedo ou mais tarde.
E onde precisam estar as raízes? “O seu prazer está na lei do Senhor e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quando ele faz será bem-sucedido” (Salmo 1.2-3). Nestas palavras, o salmista nos dá a descrição de uma árvore saudável que se nutre da corrente de águas: a Palavra de Deus.
A árvore orgulhosa, porém, olha apenas para si mesma. Está fechada em si mesma. Por isso, é completamente teimosa. Não aceita sugestões. Não avalia críticas. Rejeita todas as propostas de mudança. E, assim, segue de cabeça erguida rumo ao abismo.
Voltar às raízes significa depender de Deus, viver a espiritualidade de uma maneira viva e entusiasmada e servir a Deus por meio do próximo através dos dons que são os frutos que produzimos aos outros. A árvore não serve a si mesma, mas produz os frutos para os outros. O cristão não serve a si mesmo, mas coloca seus dons à serviço do Reino de Deus. Os frutos virão à medida que nosso ego fica de lado para que a teimosia dê lugar à vontade de Deus – e às mudanças que serão necessárias em nossas vidas. Portanto, o orgulho certamente torna a igreja doente, frágil e vulnerável.
2 AS FOFOCAS
Talvez não haja nada tão prejudicial à vida da igreja quanto as fofocas que os membros fazem uns dos outros. As fofocas são como uma infestação de fungos que consomem e matam a árvore de dentro para fora aos poucos, tornando o sofrimento ainda mais insuportável. Na igreja, as fofocas corroem e matam a comunidade de dentro para fora de forma dolorosa onde pessoas vão aos poucos sendo machucadas.
A comunhão na Igreja de Jesus precisa de amor fraternal com sinceridade. Não se trata de dizer o que se quer para ofender ao próximo, mas falar diretamente com cada pessoa de forma amorosa visando seu bem e o da Igreja. Não se trata de humilhar, mas de indicar o caminho e se dispor a caminhar junto.
O apóstolo Paulo sofreu muito com fofocas. Os irmãos em Corinto o caluniaram de muitas formas, desacreditando seu apostolado. Mesmo assim, Paulo permaneceu firme em Jesus Cristo, aquele que é a Verdade que liberta e que era o próprio centro da sua vida. Paulo não agia por si e por sua reputação, mas pela reputação de Cristo e do seu Reino.
3 AS DIVISÕES
Uma igreja dividida é uma igreja que está longe de Jesus. Paulo já falou disso no início da sua carta aos coríntios onde destacou os diferentes grupos inimigos que havia naquela comunidade. Todos abraçavam alguma personalidade e até Cristo foi dividido como apenas mais um a qual poderiam aderir ou não. Assim, divisões internas afastam de Cristo e fazem seus apoiadores se colocarem no lugar de Cristo.
Outro problema na comunidade de Corinto era a compreensão sobre dons. Um achava que o seu dom era mais especial que o dom do outro. Um achava que o seu dom era mais importante que o do outro. Assim, um achava que agradava mais a Deus que o outro. No texto que ouvimos, o apóstolo Paulo “acabou com essa palhaçada” ao afirmar a importância de todos os dons. Contudo, seu “arremate” vem no capítulo seguinte: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1 Coríntios 13.1-3). Ou seja: não importa qual é o dom. Se não for exercido com amor, não vale nada no Reino de Deus. Pode até ter valor no nosso mundo, mas no Reino de Deus não passa de pó!
Por isso, todos os dons são igualmente importantes quando exercidos com amor e não por orgulho ou competição. Lutero falou disso dando um exemplo:
Se um homem fosse lavar as fraldas ou realizasse qualquer outro serviço desprezível na criança, e todos zombassem dele, dizendo que é um babaca e afeminado; no entanto, se ele o fizesse no espírito acima descrito e na fé cristã – dize-me agora, quem zomba mais do outro? Deus se alegra com todos os anjos e criaturas, não porque [o pai] lava as fraldas, mas por fazê-lo na fé.[5]
Amados irmãos, amadas irmãs,
para terminar, quero trazer um vídeo para assistirmos. No vídeo é apresentada uma dinâmica de grupo que foi aplicada em um workshop em São Paulo. Vamos ver.[6] (vídeo abaixo).
Colocar os dons a serviço do Reino de Deus significa colaborar com o crescimento da Igreja de Jesus. E esse é o compromisso que mencionei no início da pregação. Todos que queremos o crescimento da igreja precisamos colaborar para esse crescimento através dos nossos dons. A colaboração mantém o organismo vivo e seguro de ameaças internas e externas. Isso serve para empresas e organizações. Porém, nosso diferencial é o Evangelho de Jesus Cristo.
Com muito amor, você é hoje chamado ao compromisso de colaborar. Quais são os seus dons? O que você sabe fazer? Está disposto a aprender algo novo? Venha conversar com a gente. Há muito trabalho a fazer. Fiquemos bem unidos para que – como uma floresta – sejamos uma organização viva e que cresce, nutrindo uns aos outros no Evangelho. Amém.
[1] WOHLLEBEN, Peter. A vida secreta das árvores. Rio de Janeiro: Sextante, 2017. p. 9-10.
[2] WOHLLEBEN, 2017. p. 11.
[3] WOHLLEBEN, 2017. p. 11.
[4] A parábola do semeador (cf. Mateus 13.1-9; Marcos 4.1-9; Lucas 8.4-8); a parábola do grão de mostarda (cf. Mateus 13.31-32; Marcos 4.30-32; Lucas 13.18-19); a parábola do Joio e do Trigo (cf. Mateus 13.24-30); a parábola do crescimento secreto da semente (cf. Marcos 4.26-29); a parábola da figueira estéril (cf. Lucas 13.6-9); a parábola da videira verdadeira (cf. João 15.1-8); e a parábola dos lírios do campo e as aves do céu (cf. Mateus 6.25-34; Lucas 12.22-31).
[5] LUTERO, Martinho. Da vida matrimonial – 1522. in: LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas: ética: fundamentos – oração – sexualidade – educação – economia. v. 5. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2011. p. 177.
[6] < https://www.youtube.com/watch?v=EbjtuWBNtRo >. Acesso em: 22. jan. 2025.