Filipenses 4.6-7
Romanos 12.2
Ação de Graças
Ciclo do Tempo Comum
P. William Felipe Zacarias
Amados irmãos, amadas irmãs,
a gratidão faz bem à saúde; e não sou eu que estou dizendo isso, mas a ciência: Em 2017, pesquisadores da Coreia do Sul publicaram um estudo na famosa revista Nature com o título Efeitos da meditação da gratidão na conectividade funcional da rede neural e no acoplamento cérebro-coração[1]. Participaram da pesquisa 32 voluntários saudáveis que se sentaram por aproximadamente 30 minutos e eram convidados a pensar em momentos de gratidão (pensar na mãe com carinho, por exemplo) e ressentimento (lembrar de alguém ou algo que causou raiva na vida, por exemplo). Enquanto isso, o coração do voluntário era monitorado em sua frequência cardíaca e também seu cérebro através de uma ressonância magnética. Os resultados são surpreendentes e podem ser conhecidos com maiores detalhes no artigo que está publicado em inglês de graça na internet.
O monitoramento do coração revelou que os voluntários tiveram uma diminuição da frequência cardíaca quando meditavam na gratidão e um aceleramento dos batimentos quando pensavam no ressentimento. Assim, o experimento demonstrou que a gratidão acalma o corpo enquanto o ressentimento causa tensão e estresse. Já o monitoramento do cérebro demonstrou que a gratidão ativou o sistema parassimpático que é responsável pelo nosso repouso e pela nossa digestão, indicando mais autoestima, menos estresse e menos ansiedade. O que isso quer dizer? Quer dizer que o nosso corpo fala! O corpo sente e dá o recado sobre o que estamos pensando ou sentindo.
Segundo a pesquisa, os efeitos da gratidão não são apenas momentâneos, mas também contínuos. Na ressonância magnética do cérebro, percebeu-se que no momento da gratidão não houve muitos efeitos significativos; contudo, após o momento de gratidão, a amígdala cerebral (responsável pelas emoções) se conectou ao córtex pré-frontal que é responsável pelos pensamentos. Essa conexão significa um efeito de tranquilidade após o momento de gratidão. Outro efeito após o momento de gratidão foi a ligação entre o núcleo acumbens (que processa o prazer, motivação e impulso) com o córtex pré-frontal, o que demonstrou que a gratidão auxilia na tomada de decisão.
Contudo, a grande novidade da pesquisa foi correlacionar cérebro e coração. O experimento demonstrou que nos momentos de gratidão, houve um acoplamento entre cérebro e coração, como se ambos estivessem “na mesma batida” ou “dançassem no mesmo ritmo”. A gratidão promove o bem-estar. Apenas na gratidão o cérebro e o coração dançaram juntos. No ressentimento, não houve essa acoplagem, acontecendo justamente o contrário: a perda do ritmo e da harmonia.
A grande sacada da pesquisa é a demonstração de que a gratidão causa mudanças reais e que podem ser medidas: acalma o coração, reorganiza redes em nosso cérebro ligadas ao pensamento, à emoção e à motivação e cria a sincronia entre cérebro e coração. A pesquisa é uma base biológica para a gratidão. E estes foram os efeitos durante trinta minutos de pesquisa. A pergunta agora é: o que acontece então com a gratidão ou o ressentimento a longo prazo?
Amados irmãos, amadas irmãs,
a gratidão faz bem à saúde. Não é à toa que a gratidão é um tema bastante presente na Bíblia. No Antigo Testamento, o salmista louvava a Deus em agradecimento por todas as bênçãos recebidas, dizendo: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo que há em mim bendiga ao seu santo nome. Bendize, ó minha alma ao Senhor, e não te esqueças jamais de nem um só de seus benefícios” (Salmo 103.1-2). A gratidão está diretamente ligada à memória, enquanto o ressentimento está vinculado àquilo que queremos esquecer! A lembrança contínua do que se quer esquecer faz mal; o esquecimento contínuo do que nos fez bem, também faz mal; a contínua lembrança das bênçãos recebidas leva à gratidão. Sem memória de bons momentos, não há gratidão – e nem louvor a Deus que também é a contínua lembrança do seu agir no passado da História da Salvação.
Muito antes dos pesquisadores atuais, Jesus já havia dito e ensinado: “Não andeis ansiosos pela vossa vida” (Mateus 6.25a). Também o apóstolo Paulo escreveu aos Filipenses: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Filipenses 4.6). O conselho de Paulo é que coloquemos aquilo que nos deixa ansiosos na presença de Deus através da oração através de pedidos, súplicas, mas também em gratidão por tudo o que já recebemos. De repente, ao chegar nesta última parte do conselho de Paulo, vamos perceber o quanto já recebemos de Deus. Aos Romanos, Paulo escreveu: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.2). Renovar a mente me parece ser uma boa ligação com a pesquisa dos sul-coreanos. Talvez tenhamos nos acostumado tanto às queixas, murmurações, reclamações e ressentimentos que programamos a nossa mente a focar sempre nos aspectos negativos da vida. O apóstolo Paulo fala de uma renovação da mente, um convite a vigiarmos os nossos pensamentos e a reprogramarmos a nossa existência para uma vida com mais gratidão e, portanto, mais qualidade de vida.
Enfim, aquilo que a sabedoria das Escrituras já manifestou a tantos anos atrás pode hoje ser comprovado pela ciência. A Bíblia, vista por muitos como arcaica e ultrapassada, continua sendo atual. No mundo digital – que é o mundo da ansiedade – a Palavra de Deus possui muitas dicas para uma vida mais saudável e com mais qualidade. O ressentimento faz mal; abra espaço para a gratidão em sua vida e aproveite este Culto de Ação de Graças para agradecer a Deus por todas as bênçãos que você tem recebido. “Em tudo dai graças” (1 Tessalonicenses 5.18). Amém.
[1] KYEONG, S., KIM, J., KIM, D. et al. Effects of gratitude meditation on neural network functional connectivity and brain-heart coupling. Sci Rep 7, 5058 (2017). < https://doi.org/10.1038/s41598-017-05520-9 >. Acesso em: 10. jul. 2025.