Amados irmãos, amadas irmãs,

Maria de Betânia e Judas Iscariotes acabaram de testemunhar um grandioso milagre: a ressurreição de Lázaro (que era irmão de Maria de Betânia) a partir da palavra de Jesus: “Lázaro, vem para fora” (João 11.43). Ambos foram testemunhas oculares do agir poderoso de Jesus. Ambos presenciaram um grandioso sinal de Deus entre os seres humanos. Diante do maravilhoso milagre, a atitude de Maria de Betânia é a gratidão – ela se humilhou aos pés do mestre, ofertando-o de um bom perfume; já Judas Iscariotes tem a atitude de pensar apenas em si mesmo – o dinheiro do perfume poderia ser uma boa oportunidade para ele encher “o seu bolso”.

O milagre foi o mesmo; o Senhor Jesus é o mesmo; contudo, a resposta ao milagre de Jesus depende do que está cheio o coração humano: em Maria de Betânia, um coração cheio da disposição de viver em comunidade; em Judas Iscariotes, um coração cheio de egoísmo e que pensa apenas em si mesmo. Maria de Betânia ofereceu o que tinha de melhor; Judas Iscariotes revelou o que tinha de pior. Maria de Betânia foi sincera; Judas foi mentiroso e falso. Maria de Betânia procurou a humildade; Judas Iscariotes buscou o poder. Maria de Betânia se importava com os outros; Judas Iscariotes se importava apenas consigo mesmo. Maria de Betânia foi fiel; Judas Iscariotes se tornou o traidor. Maria de Betânia encontrou o tesouro da sua vida em Jesus; Judas Iscariotes trocou o maior tesouro do mundo por trinta moedas de prata – o investimento arriscado que trouxe o maior prejuízo da sua vida e até acabou com ela!

A ganância, a corrupção, a mentira, a falsidade, o egoísmo e a traição – realidades que não vão muito longe quando estão diante do poder, da verdade e da vontade de Deus que, com sua luz, ilumina e conhece as verdadeiras intenções do coração do ser humano. As pessoas podem ser enganadas, mas a Deus ninguém engana!

Quando a verdade aparece, as máscaras precisam cair. Quando a verdade aparece, as vestes da mentira caem deixando o ser humano nu. Quando a dolorosa verdade aparece, só resta a vergonha – a verdade que se torna tão difícil de ser aceita, contemplada e acreditada. Pais podem ser enganados; filhos podem ser enganados; o/a cônjuge pode ser enganado/a; autoridades podem ser enganadas; presbíteros podem ser enganados; o pastor pode ser enganado, mas a Deus ninguém engana! Diante de Deus a mentira não existe, pois tudo o que ele enxerga é a verdade!

E pode escrever: onde hoje está a mentira, no futuro estará a traição. Não há como ser diferente. A mentira traz consigo o desespero de precisar ser mantida a todo custo. E para manter uma mentira é preciso contar uma nova mentira. E para manter as duas mentiras será necessário contar mais uma mentira. E quando a verdade se tornar a ameaça que quer destruir o “castelinho de areia”, não haverá outra opção senão a traição para que a verdade não apareça. Enquanto a verdade gera a confiança, a mentira gera o desespero; enquanto a verdade gera a certeza, a mentira gera o medo; enquanto a verdade gera a fé, a mentira gera a justificação por obras – como as folhas de figueira usadas por Adão e Eva no Jardim do Éden na tentativa humana de esconderem por si mesmos os próprios pecados. O ser humano é mentiroso ao ponto de acreditar na própria mentira – de que é bom e agradável a Deus por si mesmo.

Na praça da Igreja São Pedro em Gramado/RS há as estátuas dos discípulos de Jesus. A estátua de Judas Iscariotes é bem interessante. Nela, vemos a aparência de um homem honrado, reverente e bem apresentado – mas são só aparências. O seu olhar não engana! É um olhar cheio de falsidade, egoísmo e ganância. Além disso, embora sua postura reverente, uma das suas mãos está escondida: ele é um homem que age “por baixo dos panos”. Na administração de Judas das coisas de Deus, não há transparência – tudo precisa ser feito às escondidas... Isso se torna ainda mais evidente ao olharmos para a sua outra mão onde está a bolsa da tesouraria dos discípulos, de onde ele desviava dinheiro para os seus próprios bolsos – até, enfim, trocar o próprio Senhor Jesus por trinta moedas de prata.

Não se enganem, pois as aparências enganam! Por trás da aparência, há uma essência fragilizada pela mentira e com medo de ser descoberta. Por trás da reverência, há um desrespeito pelo mistério sagrado. Por trás da mentira, há a verdade a ser mostrada.

Amados irmãos, amadas irmãs,

Maria de Betânia e Judas Iscariotes: dois personagens diferentes, duas atitudes diferentes e duas consequências diferentes, embora o Senhor e o milagre da ressurreição presenciados sejam os mesmos.

Estamos vivendo o tempo da Quaresma – tempo de arrependimento e conversão. Qual é a sua atitude diante dos feitos de Deus? Qual é a sua resposta diante de Deus? Admiração, gratidão e contemplação? Ou ganância, egoísmo e infidelidade?

Bem, é muito fácil criticar Judas Iscariotes, mas quantas vezes nós também já abandonamos ao Senhor? Quantas vezes nós também pensamos mais em nós mesmos que no Reino de Deus? Quantas vezes colocamos a nossa própria vontade acima do melhor para o coletivo? Quantas vezes colocamos o individualismo acima da vida em comunidade? Quantas vezes colocamos o “eu” acima do “nós”?

Todos nós temos um pouquinho deste “Judas Iscariotes”! Mas, não é o fim. Este é o tempo oportuno para buscar a Deus. Este é o tempo oportuno para se arrepender. Este é o tempo oportuno para buscar a verdade. Este é o tempo oportuno para buscar a salvação.

Hoje é o dia da salvação. Hoje é o dia de abandonar a mentira. Hoje é o dia de abandonar a falsidade. Hoje é o dia de voluntariamente arrancar as máscaras. Hoje é o dia de abandonar as aparências. Hoje é o dia de correr para os braços daquele que é o caminho, a verdade e a vida: Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.

Neste tempo da Quaresma, reflita sobre isso. E prepare o seu coração para na Semana Santa – a Semana mais solene da fé cristã – ser relembrado do misterioso e profundo amor de Deus por você revelado nos sofrimentos e na ressurreição de Jesus Cristo. Nele está a nossa paz, a vida eterna e verdadeira e a nossa Salvação. Vá hoje à Jesus e receba dele perdão, reconciliação e absolvição. Vá a Jesus!

E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes, em Cristo Jesus, amém.